A primeira vez em que vi a titânide sentada sobre montanhas fiquei mesmerizado; tomei-lhe por um monumento esculpido por algum imenso poder já há muito esquecido.
Contudo, eu já perseguia uma outra história, e quando, por fim, minha busca alcançou seu desfecho, precisei deixar aquela realidade às pressas.

Quando retornei, anos haviam se passado na minha história, e séculos naquele estranho mundo verdejante. E eis que lá estava a titânide, ainda se avultando sobre a mesma imponente cordilheira. Desta vez, porém, erguia-se de pé, trespassando o firmamento — seus cascos colossais acobertados pela natureza que florescia para escalá-los; sua sombra se estendendo para além do horizonte.
Foi só então que compreendi.

Tomado pela curiosidade, expandi meus sentidos para lhe tocar a mente — tão vasta, capaz de tantos pensamentos simultâneos —, e quase tive minha consciência estilhaçada em uma infinitude de fragmentos. Era grande demais para compreender.
Através dos seus olhos eu vi um mundo diminuto, encapsulado por uma névoa rarefeita e cercado por um eterno céu cinzento e cintilante. Seu escopo era maior do que qualquer coisa que pudesse conceber.

A existência de seres como eu era insignificante para a titânide; civilizações surgiam, floresciam e declinavam antes que seu olhar sequer as captasse. Vida e morte não passavam de grãos microscópicos em meio às areias do tempo. Ela e o planeta eram um só, e parte dela estava em todos os lugares de uma vez.
Esteve lá no início de tudo e estaria no final.
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